terça-feira, 31 de agosto de 2010

Nós e a Greve – Parte I: 2010

Ato na Rua Itapeva.
Passado em torno de um mês e meio do fim da greve de funcionários nas universidades estaduais paulistas, tudo volta ao normal na Universidade de São Paulo: bandejões, circulares, atendimento ao público em geral e outras atividades diretamente ligadas ao trabalho dos funcionários.

Também volta ao normal especialmente o espírito dos que como nós – sedentos por mudanças – queríamos contribuir para a transformação da universidade em um espaço mais democrático e, quiçá, intervir no debate de problemas que envolvem a sociedade brasileira e até questionar e denunciar questões que extrapolam nossas fronteiras.

A participação ativa e diária no movimento, nas discussões sobre a universidade, nas assembléias calorosas em que os companheiros do comando de greve sempre exaltam a força e a importância do movimento com palavras de ordem que nos fazem acreditar que é realmente possível modificar a estrutura tradicional e enraizada da burocracia universitária: esse dia-a-dia mergulhado na militância nos torna ativistas, lutadores, ‘revolucionários’ e otimistas quanto às possibilidades de transformação da universidade e, quem sabe, até de nós mesmos enquanto sujeitos nessa luta. Isso porque nos momentos mais intensos chegamos a acreditar que seremos capazes de encampar uma luta orgânica e consistente a ponto de conquistar a tão sonhada universidade “democrática e de qualidade para todos“.

Pois bem, talvez por conta da imersão na discussão política, talvez pela sensação de um coletivo comum e organizado, o fato é que, durante a greve, sentimo-nos mobilizados para enfrentar os problemas de organização da universidade, tais como a forma como as relações se dão, o pouco diálogo entre os setores, o cotidiano árido de discussões para melhorias que façam sentido, a permanência de questões que se arrastam há anos, a falta de espaços democráticos que sejam escuta e encaminhamento de propostas efetivas de transformação.

Contudo, sabedores de que o movimento está limitado a um determinado período e que essa transformação, por assim dizer, mais substancial, carece de um tempo maior de debate e aprofundamento e, especialmente, de envolvimento mais efetivo de todos os segmentos, surge a proposta para a continuidade da discussão dessas questões no pós-greve.

Na FE, por exemplo, a partir desse debate, neste ano a ideia foi intervir para um espaço cotidiano de trabalho mais politizado, no qual todas as categorias – funcionários, docentes e alunos – pudéssemos discutir as relações institucionais numa perspectiva mais atuante e, assim, preparar o território político para as representações nas diferentes instâncias da universidade.