Curtos

Imagem: natyguterres.blogspot.com
Não é segredo para quem me conhece ou acompanha este Blog a prolixidade com que, na maior parte das vezes, costumo desenvolver minha fala e, também, meus textos.

Por conta disso, às vezes fico 'cozinhando' uma idéia durante semanas e, a depender do assunto, os posts durante dias e dias.

Contudo, ultimamente tenho sentido necessidade de me dedicar mais à escrita de temas, às vezes surgidos cotidianamente, que me cutucam e provocam, me levando a crer que merecem ser registrados nesse espaço - ainda que não sejam desenvolvidos com a profundidade pretendida pelos posts.

Dessa forma, essa página tem como proposta agregar temáticas, notícias, provocações - e o que o mais for possível - com a sucintez que o título sugere em seu formato, ou seja,  curtos. Afinal, segundo um certo poeta, escrever é a arte de cortar palavras.


Com isso, espero dar uma atenção maior ao meu desejo de partilhar um pouco mais continuamente minhas reflexões aqui no Blog e também agradar a alguns fiéis e queridos leitores que, para meu deleite, têm tido paciência de ler meus looongos textos e ainda me cobrar assiduidade na publicação do Pouco Açúcar.

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Paquera Espiritual

Outro dia estava tomando café com uma amiga e tive a impressão de ver um professor querido saindo do estacionamento. Como sou um tanto míope, achei que estivesse enganada mas, em seguida, percebi que ele também  tinha me visto e acenava para mim.

Como minha amiga percebeu a cena, imediatamente começou com aquela clássica 'zoeira', acusando-me de estar paquerando o professor.

Indignada, imediato eu me defendi, muito mais pelo equívoco dela do que por qualquer outra razão que pudesse estar implícita na brincadeira.

Contudo, ao mesmo tempo em que respondi "não, eu não paquero o Antônio**", refleti e percebi que sim, que eu paquero, mas de uma forma diferente da insinuada por ela. Refiz minha resposta: "na verdade, a gente tem uma paquera espiritual".


Bem, o fato é que não tenho certeza se sou correspondida na minha paquera espiritual com o tão querido professor, mas na conversa me dei conta da existência dessa paquera de natureza, por assim dizer, transcendental.


Isso porque existem pessoas que nos conquistam de forma tão apaixonante que fica impossível não paquerá-las, afinal, paixão geralmente implica paquera. Contudo, às vezes essa paixão é muito mais profunda do que satisfazer o desejo físico ou mesmo - para os que gostam de associar paixão e relacionamento - a necessidade de estar com o outro amorosamente, no sentido romântico do termo.


Foi esse sentimento que chamei de paquera espiritual, essa percepção de uma paixão e, por que não?, de um amor genuínos por alguém que admiramos e queremos muito bem, e que transcende essa forma mais padronal do gostar apaixonado, em que, geralmente, é imprescindível namorar, agarrar, fazer sexo e assim por diante.


Estranho? Pode ser, especialmente para um mundo impregnado de materialismo por toda parte, onde tudo se dá muito mais na dimensão da concretude e no qual sentimentos como esse podem ser tão incompreensíveis quanto a tal da espiritualidade.


De qualquer forma, acho que a paquera espiritual é a demonstração do quão especial pode ser uma relação, porque tem esse quê de algo mais de uma forma sensível e desprendida, que não carece do outro amorosamente, novamente no sentido romântico do termo, para satisfazer esse sentimento.


Não sei se consegui me fazer entender bem, mas acho que se o persistente leitor considerar essa perspectiva do gostar de alguém chegar a descobrir que tem paqueras espirituais, com certeza compreenderá melhor o que estou tentando explicar, afinal, sentir é muito mais eficaz do que falar ou, neste caso, escrever.



**Nome fictício

 07 de junho de 2011.

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Água é vida


Imagem: smseletro.blogspot.com
Imagino que talvez o nobre leitor possa ter pensado, ao ler o título acima, sobre o porquê de eu ter utilizado uma frase tão clichê para iniciar este curta. Pois bem, espero que a razão fique devidamente justificada até o final desta reflexão.

É simples, essa semana uma colega que trabalha comigo voltou de um evento no México, na capital Cidade do México, e em meio a essas conversas que vão de um assunto a outro ela contou sobre a falta de água que há naquele país.

Disse da necessidade de ficar caçando a água embaixo do chuveiro porque sai apenas um fiozinho [de água]. Disse também que soube de crianças que não tomavam banho em algumas comunidades porque não há água. Deve haver adultos nessa condição também mas, diferente das crianças, os adultos não costumam contar essas coisas.

Sua observação sobre alguns locais em que esteve foi de que a higiene fica um tanto prejudicada, porque não é possível lavar ou mesmo limpar  o chão, apenas varrer, porque não há água para isso. Uma questão importante é que isso não atinge apenas bairros ou comunidades pobres, tanto que o hotel em que ficou tinha um bom padrão e apresentava problemas similares.

Fiquei pensando na quantidade de pessoas que conheço que lavam louça como se fosse necessário um rio de água para enxaguar cada prato ou no quanto é comum encontrar pessoas lavando calçadas e ruas, dentre milhares de outras atitudes que poderia citar como desperdício irresponsável de água - só aqui na capital paulista - e que, com certeza, o atento leitor presencia com freqüência. O triste é ouvir justificativas dessas atitudes infundadas em frases do tipo "a água nunca irá acabar".

O choque, que considero cultural, de minha colega com a falta de água na Cidade do México e a impossibilidade de tomar um banho 'decente' lá provavelmente não foi tão grande quanto seria o choque deles ao saber que o banho de um brasileiro de classe média costuma durar 20 minutos e gastar até 100 litros de água, sem falar nos banhos tomados pelos carros, ruas e calçadas, como já mencionei.

Não fui pesquisar para saber mais sobre eventuais problemas de ordem natural, estrutural ou político-econômica que envolvem a falta de água no México, mas pelo relato de minha colega, lá a vida está tão acomodada à carência da água quanto aqui no Brasil muitos sustentam essa mentalidade ultrapassada de que água é um recurso abundante e inesgotável.

De fato, a situação de carência no México - também sofrida por tantos outros países - em que falta água até para suprir necessidades básicas, me fez refletir sobre o quanto seria urgente urgentíssimo mudar a forma descabida com que a grande maioria dos brasileiros ainda faz uso desse recurso e verdadeiramente incorporar nas atitudes cotidianas a máxima de que, em todos os sentidos, água é vida - independente ser ou não clichê.



 02 de junho de 2011.

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