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terça-feira, 24 de maio de 2011

Violência lá e violência aqui: Felipe Ramos de Paiva e outros assassinatos

Imagem: fenapef.org.br
Quando comecei este post, pensava em inaugurar uma página que estou escrevendo para o Blog, intitulada Curtos. Contudo, em meio ao desenvolvimento do texto fui me dando conta de que a forma como o tema necessita ser tratado não cabia na proposta dos curtos. Assim, seguem algumas reflexões que fiz a partir da morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, 24 anos, assassinado semana passada na Cidade Universitária em São Paulo.

Antes de tudo, faço questão de registrar minha solidariedade à família nesse momento de dor e sofrimento profundos.

Ao mesmo tempo, fico triste por pensar nos inúmeros outros jovens assassinados em São Paulo e no Brasil como um todo e que não causam à sociedade a mesma comoção que a morte de Felipe Ramos de Paiva porque o assassinato desses jovens não é divulgado nem debatido com o furor e afinco adotados pela mídia em certos casos. [Atualmente o Brasil está na vergonhosa 6ª posição no ranking mundial de jovens assassinados].

Não costumo assistir jornais televisivos, mas dei uma passada d'olhos nos noticiários e li alguns artigos sobre um caso recente, do assassinato de 2 adolescentes na Grande São Paulo, Raizza Tavares Cruz e Elaine Serra Gomes da Cruz, ambas com 13 anos. Há informações sobre o caso, é verdade, mas não encontrei nada que se compare ao montante de notícias que nos aproximam da história de Felipe Ramos de Paiva.

Enquanto o caso da morte de Raizza e Elaine é tratado de forma, por assim dizer, fria, ou seja, noticiando-se apenas dados técnicos sobre como foi o assassinato, onde foi, qual a motivação etc., até ontem havia notícias-desdobramentos da morte de Felipe com um caráter bastante humanizador e tocante. Em muitos desses artigos e, provalmente, na mídia televisiva, é possível encontrar relatos sobre a vida de Felipe, seus sonhos, suas conquistas, sua profissionalidade e até sobre a vida mais intimista da família após sua morte.

Sem dúvida, depois do caso Isabella Nardoni, considero que é dispensável chamar atenção para a parcialidade da mídia ao visibilizar os casos com os quais se identifica, beirando às vezes ao sensacionalismo.

Entretanto, em minha costumeira ingenuidade fico pensando se mídia e sociedade verdadeiramente sérias e comprometidas com o senso de justiça - como querem parecer na discussão sobre o assassinato de Felipe - não deveriam demonstrar semelhante preocupação com tornar público o debate sobre a morte igualmente trágica de jovens das classes populares, das periferias e das favelas, assassinados de forma brutal e impiedosa, embora velada aos olhos daqueles que acham que isso é problema deles.

Eles, no caso, são todos os que estão sujeitos à violência concreta de traficantes e policiais e a outras violências que se somam e precedem aquela, como a falta de condições dignas de sobrevivência, a precariedade de moradia, educação e saúde e assim por diante.

Ora, não quero minimizar aqui a importância de se noticiar situações trágicas como foi a morte do estudante, mas me incomoda ver tanto compromisso em transformar o assassinato de um filho da classe média em um caso de comoção geral convivendo com uma quase insensibilidade social em relação a outras tragédias envolvendo nossos jovens.

Na minha mocidade lembro o quanto as chacinas da Candelária e de Vigário Geral, ambas no Rio de Janeiro, geraram a indignação e comoção esperadas de uma sociedade que se pensa alinhada a parâmetros de justiça e aos fundamentos dos direitos humanos. Contudo, passados quase vinte anos, parece que chacinas não escandalizam mais a sociedade brasileira, apenas são noticiadas como tragédias inevitáveis provocadas comumente por "acertos de contas" entre traficantes, policiais corruptos quase nunca identificados, dentre outros.

Passeata em Uruçuca/BA
Imagem: epoliticasulba.blogspot.com
Não parece necessário a essa mesma mídia, que escancara o que poderia ter sido a vida de Felipe Ramos de Paiva, denunciar a morte sumária de milhares de vidas interrompidas todos os anos em chacinas pelo Brasil afora. Ainda que os dados mostrem que a esmagadora maioria de pessoas assassinadas nas favelas são inocentes e/ou não tem passagem pela polícia, permanece o distanciamento do nosso senso de justiça, como se realmente essas mortes não tivessem nada que ver conosco, como se fosse algo pertencente a outro mundo, o mundo deles.

Numa sociedade individualista e materialista como a nossa talvez o esperado seja isso mesmo, uma separação por classes sociais de como é entendida e tratada a violência, como foi por exemplo o Reage São Paulo, movimento organizado pelas classes médias em meados da década de 90 e sobre o qual alguns de nós, ainda estudantes das Ciências Humanas, dizíamos que tinha como motivação o deslocamento da violência, antes restrita às periferias, para os chamados bairros nobres da cidade.

De fato, o Reage São Paulo foi organizado a partir do assassinato de 2 jovens em um assalto no Bar Bodega, na região de Moema, e a pressão sobre o caso foi tamanha que os acusados inicialmente de terem cometido o crime foram torturados para confessarem. Ao proferir sentença contra os verdadeiros assassinos, o juiz deu seu parecer também aos sedentos por justiça do Movimento em questão:

"Essa face hipócrita da sociedade (...) todavia, jamais reagiu quando os filhos de famílias miseráveis, nos confins da periferia regional e social, foram e continuam sendo assassinados. São Paulo reage diante da morte de filhos ilustres, mas não se emociona diante da morte dos filhos dos desprovidos de capacidade econômica que não podem freqüentar casas noturnas de Moema, mas freqüentam os bares dos bairros distantes. 'Reage São Paulo' não reagiu em favor dos nove jovens que foram barbaramente acusados e sofreram para confessar um crime que não cometeram. (...) Alguns desses jovens, que de comum têm a vida infra-humana, a pobreza latente, a falta de esperança de dias melhores, a miséria como companheira constante, a falta de ideal e perspectiva de futuro, a cor da pele, ainda sofrem as conseqüências da perversidade". Dornelles, Carlos. Bar Bodega, um crime de imprensa. São Paulo, Editora Globo, 2007. p. 261.

Infelizmente, parece que as classes médias continuam com os olhos vendados, enxergando apenas a violência cometida contra os seus.

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Principais notícias consultadas:

sábado, 12 de março de 2011

Como melhorar o trânsito paulistano

Imagem: http://quatrorodas.abril.com.br/
Depois do contraste Minas-São Paulo que vivi no último feriado refleti um pouco sobre quanto cada lugar está envolvido em um tipo de energia diferente, a depender do que acontece ali.

Claro que aos adeptos da materialidade isso pode parecer um pouco hippie demais, mas o fato é que as vibrações que emanamos diariamente nessa Sampa da pressa, da produção, do stress, da super-lotação etc. tornam a energia daqui pesada e difícil, muito diferente, por exemplo, da de Minas, pelo menos no sul, na região de Três Pontas, onde fica a Fazenda que já falei aqui no blog antes.

E o trânsito talvez seja um dos espaços onde mais essa energia se materializa porque é onde mais se concentram pessoas que acabam se irritando tanto pelas questões inerentes ao que chamamos de trânsito - e que em São Paulo representa basicamente ficarmos lentos ou parados no caminho - quanto por conta de outros fatores que vão piorando essa energia de ter de esperar diariamente nos trajetos de carro ou ônibus ou mesmo de trem e metrô.

Pois bem, formulei uma proposta que, imagino, fosse adotada por todos, poderia amenizar muito nosso stress no cotidiano do trânsito em São Paulo e, por conseguinte, amenizar o peso das vibrações que despejamos nessa Sampa que pode ser mais agradável e leve na trajetória de seus comensais, por assim dizer.

É o seguinte, considerando-se que todos vamos enfrentar algum trânsito no cotidiano, a brincadeira é tentar pegar o máximo de trânsito possível diariamente, sendo que o ganhador é aquele que tiver conseguido a maior kilometragem com trânsito ou número de horas no trânsito lento ou parado por semana ou por mês - podemos aprimorar depois qual é o jeito mais fácil de fazer essa medição. 

Assim, aquele motorista acostumado, por exemplo, a ficar costurando o trânsito aqui e ali para ganhar tempo já vai pensar duas vezes, afinal, se fizer isso vai perder pontos para quem gasta mais tempo no trânsito porque respeita as faixas.

Por sua vez, aquele motorista que gosta de aproveitar uma faixa que não existe, o acostamento ou uma faixa que vai se estreitando para cortar a fila de carros pela direita e entrar na frente de todo mundo também vai repensar essa prática mal-educada porque, seguramente, ao conseguir ganhar um tempinho vai perder pontos para aquele que respeitou a fila.

Aquele outro sujeito que faz uma manobra proibida para pegar um caminho alternativo que promete alguns segundos de ganho de tempo no trânsito também não vai mais querer arriscar-se a perder pontos, afinal, vamos relembrar o objetivo jogo?, vale tudo para ficar mais tempo no trânsito e completar mais horas que seu oponente no trânsito lento ou parado. No caso dessa manobra ilegal ainda pode acontecer de o nosso possível ganhador conseguir que o trânsito fique parado mais minutos nas faixas principais, ganhando ainda mais pontos em cima do metido a espertinho, que entrou no caminho alternativo através de uma manobra ilegal e conseguiu cortar a frente de todo mundo.

Uma outra prática comum no trânsito é aproveitar para fazer cruzamentos onde é proibido entrar ao invés de procurar um retorno ou uma rotatória. Entrando na nossa brincadeira, com certeza o apressadinho não ia se importar de esperar um pouco no trânsito e, dessa forma, iria deixar de fazer essas coisas erradas, que teoricamente ajudam o cara a ganhar tempo e sair do trânsito mais rápido mas de que nada servem para ajudá-lo a ser o vencedor nesse jogo.

Imagem: www.devaneiosdeumforasteiro.blogspot.com
Outra coisa menos perigosa mas um tanto quanto irritante é que ninguém mais ia ficar mudando o tempo todo de faixa para ficar na frente de todo mundo e sair primeiro quando o semáforo abre. Um desdobramento dessa atitude seria que os bons jogadores também deixariam os outros motoristas que pedem passagem entrarem no trânsito, afinal, quanto mais pessoas entrarem na sua frente maiores as chances de elas chegarem ao seu destino antes de você e, assim, você ganhar a brincadeira. Essa estratégia ajudaria na gentileza, iguaria pouco encontrada no trânsito de São Paulo.

E os motociclistas e motoqueiros então? Pensariam duas vezes antes de ficar correndo que nem loucos entre espaços os menores possíveis entre os carros para chegar muito rápido aos seus destinos, afinal, o objetivo é ganhar a brincadeira, portanto, ser extremamente rápido em um trânsito lento só pode colaborar para que você jamais seja o vencedor do jogo.

É, acho que teríamos que ter duas categorias, a de motociclistas e uma geral, com todos os outros veículos, senão quem dirige moto, mesmo com muito esforço, jamais conseguiria vencer a brincadeira!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Consumismo e outros "ismos", espírito de natal e sociedade contemporânea

Imagem extraída de socialismoclassemedia.tumblr.com
Hã, deixa eu adivinhar, você começou a leitura desse texto influenciado por essa imagem um tanto quanto inadequada ao espírito natalino, certo? Pois bem, achei o subtexto aí contido  bastante oportuno como provocação para o que pretendo desenvolver neste texto.

Na verdade, acho que não é mais novidade e chega mesmo a ser senso comum a discussão sobre o fato de que a data rendeu-se há tempos ao afã do consumismo característico da nossa sociedade exacerbadamente capitalista ou, como diriam alguns revoltados da década de 80, do capitalismo selvagem. Bom, quem me conhece sabe que não faço muito bem as vezes da hipocrisia então não vou polemizar sobre o Natal como se em minha vida nada acontecesse de acordo com alguns dos rituais desse evento cristão consagrado supremo nessa época do ano. Como a maioria das famílias brasileiras com formação católico-cristã, ao estar com meus familiares no final de ano, compartilho da clássica ceia de natal, abraço todos retribuindo o Feliz Natal e só não há troca de presentes porque, além de a família ser muito grande, ainda consigo manter meu desprendimento e não comprar presentes, ainda que a contragosto dos meus, sempre inconformados com meu radicalismo pouco adequado para esta época festiva.

Apesar desse comportamento chatinho em relação à compra de presentes, faço papel de boa menina no restante do cerimonial, mas vou segredar para vocês algumas coisinhas que me incomodam.

A primeira delas é essa abordagem do Natal como se todas as pessoas comungassem da mesma crença. Talvez seja ingenuidade de minha parte, mas assim como não somos todos heterossexuais ou brancos também não somos todos cristãos e ainda que o mundo ocidental seja, em teoria, majoritariamente cristão, acho muito estranho que uma sociedade que se pensa civilizada não tenha estratégias que permitam emergir a pluralidade de nossas crenças.

A seguir, me incomoda muito observar o quanto o chamado espírito de natal, que em gênese seria uma referência ao amor e à fraternidade, aparentemente se perdeu em meio às compras em shoppings e ruas lotados de consumidores frenéticos na busca por objetos que imaginam capazes de preencher seus corações e os corações de quem amam com esse ideal de sentimento abstrato de que todos falam e pensam partilhar nessa época.

O intrigante é que não me parece que as pessoas se entristeçam verdadeiramente com cenas que, imagino em minha já conhecida ingenuidade, deveriam entristecer pessoas imbuídas do espírito natalino, afinal, o nascimento do Senhor deveria trazer esse olhar para os que já perderam a esperança e a fé, não é assim?

Mas queiram perdoar a minha falta de compreensão. Talvez eu devesse ser mais razoável porque com tanta correria no final de ano, tantos compromissos e a superlotação cada vez maior de lojas, dificultando a compra dos presentes de Natal,  realmente fica difícil se atentar (quanto mais se entristecer com isso!, vejam a minha falta de bom senso) à grande quantidade de pedintes, crianças inclusive, ou ao aumento visível de pessoas vendendo ou mendigando nos faróis, idosos muitos, a quem parece que a aposentadoria e a família não chegaram após anos de trabalho a fio.

Ora, é muito provável que essas cenas e situações já estejam tão incorporadas ao nosso cotidiano de pessoas que vivem numa grande metrópole que tenhamos chegado à cômoda conclusão de que não podemos mesmo fazer nada, afinal, trata-se de um problema de ordem social muito maior do que pode dar conta a nossa humilde alçada.

De fato, concordo que o número de pessoas que hoje vive nas ruas e das ruas é muito maior do que um sujeito cristão médio empolgado com o Natal poderia prestar atenção em meio ao cotidiano espremido do final de ano e talvez essa nem seja a principal questão séria a ser trazida à baila. Mas
Imagem extraída de http://www.obrainstormer.blogspot.com/
considero que é um bom exemplo, dentre muitos outros, que poderiam ser tratados em um texto como esse, desgostoso e ácido demais para o atual momento de doçura natalina.

Vejam, também não estou remoendo assunto tão batido só para ser estraga-prazeres da alegria dos que sentem dentro de si um diferencial por estarem vivenciando genuinamente o espírito natalino. Contudo, quando nessa época ouço todos os dias apelos comerciais que incitam o consumo pelo consumo ou que relacionam* diretamente o consumo ao bem-estar e à felicidade fico pensando que não é de todo inútil essa reflexão às voltas com nossa imersão nesse confuso misto de individualismo, materialismo, consumismo e suposto amor fraterno que compõem atualmente o espírito natalino.


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*Por exemplo, “Shopping Vila Olímpia, tudo que te faz bem” ou “Pão de Açúcar, lugar de gente feliz”.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Oração e egoísmo não combinam

Imagem extraída de http://www.alienado.net/
Desde criança frases de caminhão sempre foram objeto de minha curiosidade e interesse.

São inúmeras as categorias possíveis para agrupar os variados tipos de frases mas, por diferentes razões,  as que mais me marcaram foram aquelas de conteúdo religioso: “Segura na mão de Deus e vai”; ou que remetiam à sabedoria popular: “Vote nas putas porque nos filhos delas não deu certo”; as que buscam afirmar a heterossexualidade do mensageiro:  “Enquanto eu não encontro a mulher certa me divirto com as erradas”, ou ainda aquelas de gosto duvidoso: “Perigo não é um cavalo na pista, é um burro na direção”.

Bem, assim como os motoristas da estrada, os motoristas urbanos também costumam manifestar-se através de imagens e mensagens as mais variadas, que vão desde adesivos de desenhos animados, ícones cinematográficos e dos quadrinhos, frases politicamente corretas no cenário ecológico ou radicais daqueles que praticam esportes de aventura ou mesmo através de frases comuns ao cotidiano do trânsito, tais como “Bebê a Bordo” ou “Cuidado! Eu freio para animais”. Há ainda as que remetem a determinados universos culturais tais como “É nóis” ou, novamente, à sabedoria popular: “Deus deu a vida para que cada um cuide da sua”.

Imagem extraída de www.bloogle-motorizado.blogspot.com
Nada demais até aqui, mesmo as frases escritas com esse português torto não me incomodam, acho que elas expressam a voz de determinados grupos sociais.

Contudo, sempre me incomodo um pouco quando vejo adesivos que me levam a pensar na incoerência humana. São muito comuns os adesivos com a silhueta da Nossa Senhora juntamente com um terço. Mas junto com essa imagem não é incomum vir um motorista fazendo trapalhadas no trânsito como as que já falei aqui anteriormente.

Sim, sim, eu sei que vocês podem achar que estou confundindo as coisas e que, evidentemente, não é porque uma pessoa professa uma crença que está isenta de errar (muito, se me permitem). Assim fosse, não teríamos, historicamente e atualmente,  tantos casos escandalosos envolvendo figuras e instituições religiosas das mais variadas ordens.

Mas vejam, apesar de todos esses escândalos, não acredito que devamos perder de vista que entre errar e abusar do erro tem uma certa distância. E o que presencio muitas vezes são pessoas extremamente desrespeitosas em relação ao outro, não raro colocando a vida de outras pessoas e a deles própria em risco por conta de atitudes no trânsito como as já comentadas neste espaço.

Pode ser ingenuidade de minha parte, mas sempre pensei que pelo menos aquela máxima de amar ao próximo (com todas as implicações que isso tem) quem segue o cristianismo deveria praticar. Me parece um pouco queimar o filme de Jesus ficar por aí com um símbolo cristão no carro e agir assim, com esse desrespeito acintoso aos outros.

Imagem extraída de http://www.emule.com.br/
E por falar em cristianismo, essa semana notei um adesivo novo circulando nos carros na capital paulista. Eu já havia observado antes um ou outro desses adesivos, sem frase alguma ou com alguma coisa referente a formar uma família ou algo assim. Contudo, no carro que vi esses dias estava escrito junto à imagem “Deus proteja minha família”. (grifo meu).

Fiquei um tanto quanto indignada pensando se as outras famílias não merecem ser protegidas também. Imagino que se não for considerado família - então! - nem se fala.

Ora, vocês podem me dizer que aquela família naquele carro estava orando para si, assim como cada família e pessoa pode fazer o mesmo, ficando então todas as famílias e pessoas protegidas. É uma lógica que parece ter sentido, mas será que fazer uma oração é isso?, pedir egoisticamente algo para si e/ou para os seus e ignorar todos os outros?! E aquela essência de todas as filosofias espirituais e espiritualistas  e religiões, independente de credo ou origem, que indicam que a oração deve ser feita mais para agradecer do que pedir ou que a essência da oração deve ser altruísta e não egoísta?!

O interessante é que nenhum desses questionamentos parece mesmo ser objeto de reflexão da maior parte das pessoas, cristãs ou não, que compõem essa sociedade individualista e materialista em que vivemos. Chamou minha atenção, por exemplo, um texto que encontrei quando pesquisava imagens para este post e que versava sobre o perigo desses adesivos porque, tecnicamente, "entregam de bandeja uma família aos sequestradores" já que, segundo a autora, os seqüestradores não precisariam mais ficar vigiando para descobrir se aquela família tem filho ou filha.

Imagem extraída do site
 www.produto.mercadolivre.com
Bom, achei a idéia um pouco exagerada quando penso que a depender do tipo de seqüestro seus executores precisariam de muito mais informações do que um simples adesivo pode oferecer, mas enfim, não sou expert em seqüestros e sempre acho que muitos metropolitanos sofrem um tanto desse excesso de medo comum a quem mora em grandes centros urbanos, justificando a máxima de que todo cuidado é pouco. De qualquer forma, a meu ver isso demonstra em certa medida que o tipo de preocupação presente no cotidiano das classes médias está longe de ser a maneira como fazem suas preces ou se as mesmas estão de acordo com os preceitos gerais orientados pela matriz religiosa a que pertencem.

O fato é que, ou eu estou muito fora da realidade ou Jesus deve estar achando que não conseguiu ensinar nem o básico para muitos dos que se dizem cristãos, porque me parece que oração e egoísmo são coisas que não combinam.

domingo, 3 de outubro de 2010

Carro zero tem seta?

Bem, é possível que esse título seja injusto com aquelas pessoas bem educadas que dirigem carros mais novos no trânsito paulistano. Concordo que talvez seja uma interpretação polêmica, mas à luz de um discurso bastante disseminado por aí, no qual os chamados pobres é que são sem educação, acho aceitável ter maiores expectativas de boa educação quando as possibilidades de acesso a ela são maiores. E não dá para dizer que quem dirige um carrão é sem educação por falta de oportunidade ou de acesso.

Na verdade, não acredito que o problema seja somente falta de boa educação, daquela que ensina a respeitar o outro e não querer se dar bem a qualquer custo. O que me parece é que carros caros não andam sozinhos e, dessa forma, muitos dos que tem um desses possivelmente tem um tanto de outras coisas que os fazem se sentir mais e melhores que nós mortais. Talvez isso explique a falta de respeito com que muitos Hyundai, Corolla, Vectra, Audi, Honda Civic etc. andam por aí, ultrapassando e mudando de faixa perigosamente e enfiando seus potentes motores em qualquer espaço possível sem uma sinalização básica, obrigatória por sinal.

É bem verdade que um trânsito abarrotado como o de São Paulo está também abarrotado de motoristas folgados, mas tenho sempre a impressão de que quanto maior e mais novo o carro mais folgado é seu motorista. É possível, evidentemente, que eu esteja enganada e essa proporcionalidade só chame tanto minha atenção porque normalmente são carros que, por seu tamanho e belezura, chamam mesmo a atenção de qualquer pessoa.

O fato é que tenho pensado que há coisas que o trânsito provoca que me levam a crer que mesmo pessoas gentis, solidárias, generosas, muitas vezes até religiosas, altruístas e que querem o bem do próximo não estão livres de sentimentos e atitudes vergonhosas quando estão à frente de um volante no emaranhado de carros de uma metrópole como São Paulo.

Vejam, estou bem longe de ser alguém com tantas qualidades, mas observando certos sentimentos que tenho quando dirijo por São Paulo comecei a refletir sobre o porquê e o que representa chegarmos a esses sentimentos que em nada orgulhariam uma pessoa de bem. Vejamos algumas situações.

Em geral sou uma pessoa tranqüila, até simpatizante da convivência amistosa, mas quando no trânsito, freqüentemente sou envolvida na teia da famigerada competitividade. Mas não é intencional, o que ocorre são situações como quando você está vindo na faixa da esquerda, no limite de velocidade, aí vem aquele sujeito impaciente - que se estivesse na rodovia jogaria farol alto até você sair. Como na cidade não dá para fazer isso ele ultrapassa você pela direita acelerando de tal forma a deixar claro a impaciência dele, como se estivesse no direito de dar bronca em você. Bom, quando logo à frente eu vejo que ele ficou parado no farol, numa fila de carros ou atrás de um caminhão e minha faixa me permite seguir tranqüilamente, é bom que se diga, dentro do limite de velocidade, não resisto àquele risinho interno.

Há também aquela situação em que você está se aproximando de um farol fechado, não há nenhum carro à sua frente, mas de repente alguém sai de uma faixa e entra na sua frente, afinal, todo mundo pára o carro atrás da fila que está menor. O povo não sossega, é muito chato, e aí quando de repente a outra fila em que o sujeito estava antes de mudar anda mais rápido que a atual, novo risinho, afinal, quem mandou ficar mudando o tempo todo de faixa? Não faz tanta diferença.

O pior é quando você está numa ladeira bem íngreme esperando para cruzar uma rua de duas mãos e aí vem aquele infeliz com seu carro potente se achando o esperto e quer te ultrapassar pela direita passando pela sua frente. Acho quase impossível não sentir ódio de um sujeito que faz uma coisa dessas, assim como daqueles que não deixam você fazer um cruzamento sendo que vão parar logo em frente porque o farol está vermelho ou, o pior e mais insensível, quando o trânsito está parado e você está esperando para entrar na via e ninguém deixa. Ou seja, tanto em uma quanto em outra situação o sujeito vai ter que parar 1 metro adiante mas não pode parar um pouquinho antes para deixar você passar ou entrar na fila de carros. Isso que é solidariedade! Acho impossível não vibrar muita raiva a uma pessoa que tem uma atitude dessas.

Mas o que mais me envergonha é o sentimento gerado quando estou em uma curva acentuada próxima da minha casa, local que dificulta muito a visão e no qual há um ponto de ônibus. Os ônibus não são abundantes na periferia mas, às vezes, acontece de haver um na sua frente, e aí surge aquele indivíduo que decide ultrapassar todo mundo invadindo a outra faixa totalmente sem visão por estar numa curva. Nessa hora não consigo não pensar “ah, se ele desse de cara com um carro”. Não, eu não gostaria que o cara batesse, até porque ia prejudicar alguém teoricamente inocente, mas que seria uma lição se ele tivesse que voltar para a faixa correta com o rabinho entre as pernas, ah, sim, isso tenho que admitir que passa pela minha cabeça de motorista patológica.

Por causa dessas e outras paranóias e chatices minhas sou freqüentemente associada pelos meus àquele personagem do Pateta, Sr. Walker, homem comum de hábitos estranhos e peculiares; na verdade, um senhor de bem que quando está ao volante muda completamente sua personalidade. É possível que eu não seja mesmo um exemplo de paciência e tolerância no trânsito, embora ache que há uma grande diferença entre fazer coisas desrespeitosas e não ter paciência com quem as faz. Mas tenho me esforçado e essa reflexão parte desse esforço, afinal, penso que se deixar influenciar por essa energia tão competitiva, intolerante e pouco educada que circula no trânsito de São Paulo não há de fazer bem a ninguém, nem a pessoas constituídas de acidez, pouco açúcar e muito sal como eu.
 
http://www.youtube.com/watch?v=cfnrHz_gM20

domingo, 19 de setembro de 2010

Ê, ê, Eymael...

Imagem extraída de www.juarezbatista.com

Consultório médico dia desses. Evidentemente, havia uma TV e estava ligada. Eu entrei pensando num outro texto que estou escrevendo sobre TVs em espaços públicos, quando percebi que era horário do programa eleitoral. Tenho que confessar que não venho acompanhando muito de perto as famigeradas campanhas individuais e partidárias; outro dia conversando com alguns amigos sobre isso fui questionada sobre como escolheria meus candidatos e ponderei que minhas escolhas estão vinculadas a uma avaliação que começou muito tempo antes da campanha e que me ajuda a entender candidatos e partidos desde há muitas eleições.

Bom, mas meu objetivo aqui não é discutir qual é o melhor candidato para esse ou aquele cargo, apenas partilhar com vocês algumas coisinhas que observei naquela meia-horinha de programa e que me fizeram pensar o quanto, definitivamente, campanha eleitoral é feita sob medida para agradar a um público pouco exigente, pouco observador e, sobretudo, pouco politizado.

Campanha para mostrar propostas ou projetos de gestão de fato ou sobre o que representa votar nesse ou naquele candidato enquanto construção de políticas públicas que retornem bem estar social e econômico aos cidadãos-eleitores, sendo muito otimista, o que não é meu forte, acho que fica talvez para a próxima.

Bem, então as tais coisinhas que notei com pouco espanto e certa tristeza:

1. Expressões que partem do princípio que a escolha de um candidato pode ser feita a partir da suposta confiança que um candidato conhecido em nível nacional teoricamente inspira:
  • Eu confio no Aloysio - Serra e Alckmin
  • Eu confio na Marta - Lula, para a Suplicy
  • O meu senador - Marina, para Ricardo Young

2.  Palavras-chave utilizadas por candidatos de diferentes partidos para impressionar/ convencer o eleitor:
  • ‘Oportunidade’ - utilizada por Netinho e Alckmin
  •  ‘Para todos’ ou ‘para todas as famílias’ - utilizadas por vários candidatos, dentre eles, Marta Suplicy, Alckmin e Ricardo Young

Protagonistas do fime Hair.
3. Expressões que parecem ressurgidas dos idos dos anos 60, quando o movimento hippie estava em alta, questionando a ordem social, moral e familiar vigente:

  • ‘Vamos defender os valores da família’ - Aloysio Nunes e sua suplente no senado, Marta, que não é a Suplicy

4. Frases de efeito:

  •  ‘Vamos investir com coragem na segurança pública’ - Senador do Maluf (nem vale a pena saber o nome)

 5. Termos bola da vez utilizados para impressionar eleitores específicos: 
  • ‘cidade justa e sustentável’ - termo ecologicamente correto utilizado por Ricardo Young

 6. Frases que parecem pressupor que o eleitor é imbecil:

  •  ‘Talvez você não se lembre dele no governo Alckmin. É porque ele estava trabalhando’ - sobre Aloysio Nunes

 7. Musiquinhas de campanha que ajudam o eleitor a associar o candidato à sua profissão original:
  • ‘Vai ficar legal, com Netinho no Senado vai ficar o maior astral’ - em ritmo de pagode
  • E também em ritmo de pagode ‘Eu quero ter, eu quero ter Netinho no Senado trabalhando por você’
  • ‘Netinho vai mudar a cara do Senado’, completa o Presidente Lula.

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A partir de algumas dessas expressões fiquei eu pensando se os eleitores tivessem a oportunidade de perguntar aos candidatos o que significa exatamente cada uma dessas palavras e expressões se eles saberiam responder e, principalmente, se já teriam em mente o que seria necessário, concretamente, para torná-las realidade.

Por exemplo, o que seria necessário para que São Paulo fosse uma ‘cidade justa e sustentável’? Só a sustentabilidade já implicaria, no meu entendimento, um montante incontável de ações; fico imaginando o que seria necessário para efetivar a justiça, conceito quase abstrato no mundo contemporâneo.

Para além das expressões mirabolantes, há expressões que soam, nas entrelinhas, excessivo conservadorismo que me arrepia. Por exemplo, quando se diz ‘vamos defender os valores da família’, fico imaginando de que valores e de que família estamos falando, afinal, na minha ingenuidade, pensava que tínhamos superado o modelo papai e mamãe casados no religioso com filhos nascidos no pós-casamento - ainda que feitos antes dele. Temo por pessoas como eu, solteira convicta com meus dois filhos, que talvez não sejamos considerados família para esse padrão de valores e, evidentemente, temo ainda mais por todos aqueles que amam parceiros/companheiros e parceiras/companheiras do mesmo sexo e que lutam por constituir suas famílias conquistando os mesmos direitos instituídos às famílias aceitas nesse padrão tradicional e conservador.
 
Imagem extraída de www.jabacomjerimumrn.blogspot.com
Outra expressão que me parece esconder a violência de forma sutil, tão ao gosto das classes médias conservadoras receosas de que sejam desnudadas em seu desgosto perante a pobreza e a marginalidade, é a tal ‘vamos investir com coragem na segurança pública’. Fico imaginando, não sem calafrios, o que seria investir com coragem? Talvez coragem para extirpar de vez uma parte dos chamados marginais, promovendo a sensação de falsa e cômoda segurança às classes médias e, ao mesmo tempo, mostrando quem está no comando, como à época do governo Fleury no Carandiru e da Candelária, no Rio.

Considerando qual setor da sociedade representa o mentor de tal frase esse tipo de ação não seria uma surpresa, afinal, sua campanha proclama o que seria de São Paulo sem a Imigrantes, sem o Túnel Airton Senna e mais um tanto de obras de grande porte, ou seja, educação, moradia, transporte público para quê?, se podemos garantir uma infra para a cidade enquanto uma São Paulo com alto fluxo de circulação de produtos e de pessoas?

O interessante é que não aparece nada nesse sentido durante a propaganda do sujeito (exceto Leve Leite e Cingapura, mas convenhamos, isso não é referência para projeto social decente...); entretanto, depois aparece como proposta de campanha que o sujeito vai fazer grandes projetos sociais. Novamente, fico imaginando se algum eleitor bem-intencionado tivesse oportunidade de perguntar quais se ele já teria algo em mente para responder.
Imagem extraída de www.ressacamoral.com

O fato é que talvez essas sejam mesmo coisinhas diante de tantas outras questões que estão na boca do povo e circulando pela internet sobre o que chamo de candidatos celebridades, sobre a candidatura de sujeitos corruptos e outras questões que me fazem pensar sobre quais seriam as razões que explicariam esse estado da política no Brasil.

Quando eu era criança lembro de, junto com meus amigos na escola, ficarmos cantando musiquinhas como a ‘Ei, ei, Eymael, um democrata cristão’, sem nunca termos nos questionado sobre o que seria um democrata cristão ou ainda ‘Juntos chegaremos lá, fé no Brasil, com AFIF juntos chegaremos lá’ sem também não nos perguntarmos o que representava ter fé no Brasil ou o que seria chegar lá. Hoje, vendo a campanha política atual e as dos últimos anos, tenho pensado duas coisas: 1) pelo menos a gente era criança e 2) a gente era feliz e não sabia.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Aviso aos navegantes

Como diria um historiador nato, contextualizar é preciso.

Qualquer coisa que você perguntar a um sujeito com essa formação correndo nas veias, dificilmente terá como resposta algo objetivo, sem contextualização prévia. Eu diria que é quase impossível para alguém assim explicar algo sem situar muito bem os fatos, afinal, dessa forma, seu interlocutor compreenderá melhor o assunto tratado.

Você pergunta como é possível que no Congresso brasileiro haja tanta corrupção, esperando uma discussão que gire em torno da falta de participação política da maior parte dos brasileiros, de questões envolvendo a educação básica ou ainda alguma responsabilidade envolvendo a mídia, mas não, o cara vai muito mais longe e, assim, começa a te explicar que essa situação tem raízes na formação do Brasil desde a época da colonização pelos portugueses, disserta sobre o momento político em que o Brasil deixou de ser colônia e passou a ser "Império" e por aí vai, até chegar aos tempos atuais.

Calma, existe um mito que talvez seja comprovado um dia: nem todos os formados em História são prolixos ou viciados em contexto.

Quanto a mim, aviso aos navegantes deste blog sobre algumas coisas que sempre encontrarão por aqui, e um pouco dos porquês disso.

E veja, não se trata de justificativas, o objetivo é contextualizar você.

1. Filhos.
Sim, tenho dois, sou ultra-coruja, mas para além das corujices sou educadora e estudiosa da educação e mãe bem-sucedida. Então falarei muito por aqui de nossos filhotes e assuntos afins, como educação, dilemas pais e filhos, a dureza que é educar filhos bem-educados nesse mundo complexo e complicado e tudo o mais.

2. Classe média.
Sim, concordo que não existe apenas uma classe média, que existem infinitas nuances quando pensamos as classes médias e que, nesse e em outros sentidos, o termo burguês é extremamente limitado quando utilizado nos termos que normalmente são usados por pessoas consideradas antiquadas politicamente, mas como uma quadrada que sou, adoro utilizar esse termo, porque acho que ele fala por si, por assim dizer.

3. Questão racial.
Se você gastar seu tempo por aqui, é possível que pense em alguns momentos "por que essa branca se preocupa tanto com isso", mas sim, a questão racial é algo que discuto e reflito e denuncio o tempo inteiro, talvez porque eu não acredite, em certo sentido, que haja realmente brancos no Brasil, talvez porque me incomode a ideia de que alguém acredite (ainda) que há democracia racial no Brasil, talvez porque eu ache que alguém que pense algo similar ao que citei no início do parágrafo realmente precisa ser incomodado com assuntos sobre a questão racial.

4. Gênero.
Sim, para mim a questão de gênero está presente em tudo e acho que é muito importante perceber as sutilezas nas quais, o tempo todo, aparecem questões que mostram como o machismo e a violência estão incrustados nas relações.

5. OutrAs.
Além disso, como já me falaram muitas pessoas queridas, eu sempre tenho algo a pitacar sobre tudo. Então farei isso aqui, palpitarei sobre tudo, inclusive o que nem é de minha alçada, como sobre filmes, montagens, a internet, enfim, tudo o que gosto de ficar analisando, que me chama a atenção e que em minha opinião pode contribuir, de alguma forma, para o tempo de quem, como eu já disse, gastar um pouco de seu tempo por aqui.