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Conversamos também sobre como essa conduta permanece depois de crescidos esses meninos, e mesmo sendo considerado um crime previsto em lei, com notícias recentes de pessoas presas por fazerem xixi na rua, a prática prossegue bastante comum e, segundo o próprio juiz que julgou um caso do tipo, a conduta é "socialmente correta".
Outra dimensão dessa conduta, um pouco mais íntima mas nem por isso menos sagrada para os rapazes, é a relação entre poder mijar em pé e a afirmação da masculinidade.
Não havia me questionado ainda sobre isso até que fui morar na residência estudantil na universidade. Os apartamentos eram mistos - ainda são na verdade - e comecei a achar absurdo que os caras sujassem o sanitário sendo que nós, meninas, teríamos de nos sentar ali, o que, a meu ver, além de nojento e desrespeitoso para conosco ainda poderia provocar doenças tais como infecção urinária, afinal, a vagina é um sexo aberto, muito mais propício à entrada de micróbios e outros seres nocivos à saúde do que o pênis.
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Eu sabia que não poderia obrigar ninguém a acatar minha solicitação, mas senti que tinha feito minha parte, e depois, era questão da consciência de cada um. Aliás, pensava, se o cara quisesse poderia simplesmente dizer que tudo bem, que faria xixi sentado, afinal, a porta estaria fechada, ninguém estaria vendo e ele poderia simplesmente fazer seu mijo inocente tranqüilamente de pé.
Mas nenhum homem que conheci e que não concordava com minha tese mentia. Os que acataram aceitaram numa boa e os que não concordavam simplesmente diziam que eu estava louca ou inventavam uma historinha para justificar sua atitude e ponto. O interessante é que essa dignidade demonstrada, a meu ver, não estava relacionada ao fato de não mentirem e sim na suposta dignidade da manutenção de seu status de homem, em sua masculinidade, no 'direito sagrado' de mijar em pé.
Aliás, há certos indicativos que colocam o fazer xixi em pé como algo meio superior da referência à masculinidade, tanto que há expressões tais como “vai começar a fazer xixi sentado?” ou “só falta fazer xixi sentado” para falar de alguém que é gay ou com comportamentos considerados pouco adequados ao padrão socialmente aceito como masculino.
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Outra coisa importante é, enquanto mães, nos refletirmos sobre como oferecer uma educação mais libertária para os meninos, desprendendo-os de símbolos como esses e outros que atrelam a masculinidade a padrões tão estreitos conceitualmente bem como a essa rigidez do não sentir, do não chorar, da não sensibilidade, da não delicadeza. Da mesma forma, cabe repensar a educação para as meninas, refletindo sobre esse formato ainda tão repressor se comparamos pequenas atitudes que diferenciam o tratamento dado a meninos e meninas numa mesma situação, como a exemplificada na primeira parte desse texto, em que meninos são livres para fazerem xixi em lugares públicos.
Quando comecei esse texto o fiz para ver se conseguia amenizar ou pelo menos elaborar um pouco minha indignação justamente sobre essa situação de ver caras mijando onde bem entendem.
Pois bem, dias desses estava indo pegar o Chiquinho, meu palinho popular 1.0, estacionado em frente a uma agência bancária. Logo ao atravessar a rua notei dois sujeitos indo em direção ao lugar onde ele estava e da maneira como foram mexendo nas bermudas imaginei que iam fazer xixi ali. Um deles, inclusive, foi bem na direção do Chiquinho, o que me fez perceber com desgosto que eu ia chegar para abrir o carro e o cara estaria ali, ao meu lado com o pinto de fora atirando urina pra todo lado.
Cheguei perto do carro e, não bastasse o cara estar ali nessa atitude indigna, observei que por todo o pneu do Chiquinho escorria mijo. Fiquei tão incomodada que sem avaliar aquele receio que normalmente temos nos grandes centros urbanos - e por isso muitas vezes não reclamamos, receosos de pessoas encrenqueiras ou loucas ou, pior, ambos - falei num tom de repreensão meio puxão de orelha meio 'não estou acreditando': “porra meu, mas no pneu do carro?” E ele, que provavelmente não pensou que fiquei cogitando se haveria alguma relação entre homens e cachorros, xixis em pneus e demarcação de território, respondeu meio envergonhado “desculpa fia”.
Cristiana · 752 semanas atrás
janypereira 34p · 752 semanas atrás
Pois é, o Chiquinho ficou chateado, é um carrinho sensível, mas aguenta bem desaforos, é forte.
Sabe q não fico muito surpresa em saber q alemães, dinamarqueses e homens de outros países q não existem não têm problemas em fazer xixi sentados pq, pelos poucos deles q conheci, percebo q são bem mais abertos e mais resolvidos com essa questão da masculinidade. Aqui no Brasil, infelizmente, ainda temos muito a caminhar nesse sentido. beijos
Rafael Araujo · 752 semanas atrás
janypereira 34p · 746 semanas atrás
beijos
Carlos Alberto Bessa · 752 semanas atrás
Walber · 752 semanas atrás
janypereira 34p · 752 semanas atrás
E Walber, puxa, de novo você me conquista com suas atitudes corajosas de vanguarda!!! =D
Alexandre · 750 semanas atrás
Claro que vou ensinar meu filho a fazer o mesmo. Logo que ele tiver esse discernimento isso será ensinado (com exemplos também) e cobrado. (já tinha começado, mas ele queria se sentar em banheiros de todos os lugares. Assim, por enquanto, é melhor fazer em pé mesmo).
Concordo plenamente com a Jany e com o texto. Não é à toa que os banheiros femininos são, geralmente, mais "usáveis" que os masculinos.
Carlos Alberto Bessa · 749 semanas atrás
janypereira 34p · 749 semanas atrás
E Carlos, não entendi exatamente a relação q vc quis dizer q há na expressão e na suposta supremacia de homens sobre mulheres, acho q o lance deve ser supremacia entre homens mesmo, considerando-se q os tidos como machos fariam xixi em pé, portanto, "para frente" e os covades então "para trás". De qq forma, mulheres não entrariam ness disputa, afinal, meninas fazem xixi para baixo, não para trás ;)
bjs
Carlos Alberto Bessa · 748 semanas atrás
Bruna · 597 semanas atrás