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Imagem: www.improvavel.com.br |
Há umas duas semanas um grande amigo me convidou para assistir um espetáculo que está em cartaz no Tuca. “Os Improváveis”, ele disse, comentando que era uma peça concorrida porque estava fazendo muito sucesso: ele havia comprado ingressos com quatro meses de antecedência. Depois, um dos atores comentou que o nome da peça é “Improvável”; parece que é comum a confusão, talvez porque o público associe o título aos vários atores e não à improvável proposta.
O fato é que eu não sabia nada sobre a montagem, então fui inocente ao que pensei apenas ser o que chamo de “programa cultural pop”.
Chegando lá, aquela primeira situação que paulistano está acostumado e normalmente reclama muito: o cara que, teoricamente, vai olhar seu carro e quer 10,00 antecipados pela vaga. O problema começa aí, freqüentar lugares assim sem ter o poder aquisitivo de quem freqüenta. Nem eu nem meu amigo tínhamos 10,00 para pagar o cara, o dinheiro estava contado, essas coisas de gente dura que insiste em não abrir mão de programas culturais.
Claro que a primeira sensação que vem é aquela de exploração, afinal, a rua é pública, 10 reais é muito caro e, provavelmente, quando você sair do teatro o cara não vai estar mais lá, como aconteceu de fato. Mas esse é o tipo de coisa que acho que precisa ser examinada num contexto mais amplo, afinal, mesmo sem grana e estacionando num carrinho popular, quando comparamos nossa situação com a daquele sujeito que estava ali àquela hora tentando ganhar a vida e não em casa descansando ou tendo a oportunidade de entrar no Tuca fica interessante questionar quem é o verdadeiro explorado nessa história.
Já no teatro, tive a sensação de estar nos bastidores de alguma novela, como se estivesse num “outro” Brasil, que você não vai ter contato andando pelas ruas. Mesmo andando por lugares como a Avenida Paulista, que continua sendo uma rua nobre de São Paulo, cores, estilos e formas se misturam, mas é como eu já disse antes, era um programa “pop”, nada mais razoável do que encontrar ali “pessoas pop” também.
Quando o apresentador entrou em cena parte da platéia foi ao delírio – a peça é como se fosse um programa de TV, com vários quadros diferentes e em cada um desses quadros acontece uma ou várias cenas improvisadas a partir de sugestões feitas pelo público. Pensei estar num programa de televisão no momento em que um ator famoso entra no palco. Gritos e aplausos precediam e eram reforçados após as piadinhas naquela primeira parte, que meu amigo explicou como sendo um tal de “stand up comedy”.
Depois entraram os outros atores e aí eu tive dúvidas se realmente não estaria na TV, porque aos gritos e aplausos acrescentaram-se palavras gritadas tais como “lindo” e “gostoso”.
Chocada com tantas demonstrações, a meu ver, exageradas, meu amigo me explicou que este espetáculo estava há bastante tempo em cartaz, que era um grande sucesso na internet, o que deve justificar que quase um terço da platéia daquele dia estava ali, não pela primeira vez, prestigiando empolgadamente o “Improvável”.
É possível que seja essa empolgação que faça o espetáculo parecer melhor do que realmente é, porque, a meu ver, embora algumas cenas tenham sido boas, a maior parte deixou muito a desejar. Isso porque talvez seja mais fácil, por exemplo, improvisar uma cena e inserir nela uma determinada frase do que elaborar uma cena que tenha como mote a mesma frase. O que ocorreu foi um pouco isso, à medida em que a proposta para cada quadro/ conjunto de cenas ficou mais complexa as cenas foram ficando mais pobres e menos engraçadas, algumas até de mau gosto, como em uma proposta que tinha como mote uma frase do tipo “o que não fazer em um teatro de fantoches” e os atores fizeram duas cenas com alusões à manipulação do animador de fantoches, que estaria com os dedos no ânus dos bonecos.
Se a motivação principal da peça é improvisação e humor, considero um espetáculo mediano, que não tem nada de excepcional, opinião que, seguramente, não é compartilhada pelo público fã do “Improvável” que, ao final, expressou sua aprovação de forma contundente, novamente com aplausos, gritos e assovios. Contudo, a meu ver, essas manifestações não demonstram a excelência do espetáculo, apenas explicam que o sucesso é muito mais devido ao público do que ao espetáculo em si.