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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Não me acostumo

Ernesto Che Guevara (1928-1967)
Com a incorporação de tudo pelo capital, inclusive e talvez, especialmente, de tudo o que é inicialmente contra o capital.

Com a máxima expressa cotidianamente de que temos que estar sempre ocupados, sempre "correndo".

Com a idéia de que ter um carrão signifique que você é uma pessoa que você não é.

Com o fato de que pessoas que se amam estejam separadas.

Que os filhos usem fones de ouvido todo o tempo, inclusive quando nós, mães e pais, queremos conversar com eles.

Que as crianças não possam viver como crianças tão antes do tempo.

Que a sociedade ainda seja tão racista, homofóbica e machista em pleno século XXI.

Que movimento social ainda seja sinônimo de criminalidade para muitos.

Que a sensibilidade seja considerada um atributo feminino.

Que estereótipos sejam tão difíceis de ser desconstruídos.

Não me acostumo com a arte ainda sendo considerada menos importante que o dinheiro.

Que ter ainda seja mais importante do que ser.

Com um conceito de felicidade que parece não ter nada a ver com ser feliz de fato.

Com pessoas que não cuidam do próprio lixo.

Com o comodismo de que a mudança começa pelo outro.

Que a liberdade não seja um artigo de primeira necessidade.

Não me acostumo com um mundo em que o pensamento de pessoas como Che ainda sejam revolucionários.

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*Minha singela homenagem a Che Guevara, que completaria 84 anos ontem, 14 de junho.




sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Oroborus, Fênix, Recomeços e Feliz 2011

Oroborus. Imagem extraída de lunarosa.multiply.com
Bom, quem me conhece sabe que não sou muito dada a romantismos e pieguices, mas acho que nem minha acidez costumeira sai ilesa da influência desse clima de final de ano, bastante propício ao sentimento de reflexão e da sensação da possibilidade de recomeço.

Estava ainda querendo escrever algo para finalizar o conjunto de textos deste ano no blog pois, também quem me conhece, sabe o quanto de carinho tenho por este espaço de expressão e de partilha do que penso.

Conversando com um amigo mui querido sobre isso, ele, que é conhecedor de música e de cultura como poucos, me falou que achava bom o fato de o ano terminar sem ter cumprido todas as metas propostas no início, porque um ano novo que começa oferece essa possibilidade; aí ele falou sobre a oroborus, serpente que engole a própria cauda e é símbolo do ciclo de eterna renovação da vida. Na mesma hora pensei na fênix, pássaro mítico conhecido por seu renascimento das cinzas.

Assim, fiquei pensando no quanto nos é vital essa renovação, de iniciarmos novos ciclos finalizando e fechando outros. O Universo demonstra isso sabiamente todos os dias e noites. Ao mesmo tempo, é interessante observar como há um imaginário coletivo e talvez até arquetípico em que mitologia, religião, espiritualidade e culturas múltiplas se intermisturam e se alimentam de uma maneira fascinante.

Vejam que a oroborus pode ser encontrada em culturas diversas e distantes no tempo e espaço, mas sempre conservando um significado singular de representação do infinito, da imortalidade, da eternidade e do renascimento. Da mesma forma, o renascer é simbolizado pela fênix que, por conta desse conceito de negação da morte, teria sido adotada no início da tradição cristã como representação da ressurreição e da imortalidade. Encontrei, inclusive, várias referências que indicam similaridades entre o mito da fênix e a história do nascimento, morte e ressurreição do Cristo.

Com isso, quero voltar à idéia do quanto nos é vital o ciclo de renovação, a possibilidade de recomeçar, e o quanto isso nos constitui enquanto seres desejosos de podermos reconstruir, refazer, fazer diferente, recompor, enfim, o quanto nos é necessário sonhar, acreditar.

Fênix chinesa. Imagem extraída de sites.google.com
Vejo sem entusiasmo parte dos votos mais comuns entoados nessa época, devidamente inspirados no já tradicional "muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender", bastante apropriado ao senso prioritariamente materialista da nossa sociedade, mas sem brilho, na minha opinião, quando penso no sentido mais amplo e profundo das possibilidades do que pode renascer em um ano novo, do que pode ser transformado nesse ciclo vital de recomeço.

Assim, desejo saúde a todos nós, não para dar e vender, mas para que se possa viver bem, porque como dizem os antigos, o importante é ter saúde, porque "no resto a gente dá um jeito".

Aos que vivem no mundo adulto, desejo que possamos nos preocupar mais em como usufruir do nosso tempo ocioso do que com a falta de tempo para fazer coisas que gostaríamos.

A quem tem amigos, desejo que sejam felizes como eu sou, porque tenho amigos que amo e que retribuem meu amor. Desejo, assim, que possamos ter muitos e muitos momentos partilhados com amigos queridos, porque existem poucas coisas tão prazerosas quanto viver perto de amigos verdadeiros.

Por fim, desejo aos pais e mães como eu que possamos ter mais e mais momentos com nossos filhotes, muito mais do que eles têm para ficar no computador e/ou na televisão. Desejo, além disso, que saibamos cada vez mais equilibrar muito amor com os limites necessários para que eles cresçam sentindo-se seguros e independentes. Desejo, sobretudo, que tenhamos sabedoria para saber que, mais importante do que roupas e sapatos da moda, brinquedos e tralhas eletrônicas de última geração e afins, o que realmente faz uma criança feliz é carinho e atenção e ser feliz ainda é o que realmente importa na vida. 

Feliz 2011!
Jany



Sites consultados:

http://recantodasletras.uol.com.br
http://somostodosum.ig.com.br
http://www.coacyaba.com.br
http://lunarosa.multiply.com

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Escolhas profissionais e felicidade

Outro dia soube que um amigo abandonou o mestrado.

Ele não trancou a matrícula para continuar num outro momento, não pediu prorrogação de prazo nem mudou de área, o que fez foi desistir do curso definitivamente. Um curso, vale ressaltar, numa universidade pública, numa área concorrida e promissora profissionalmente.

Uma atitude certamente incompreensível, até mesmo inaceitável se considerarmos o mercado de trabalho, a necessidade de especialização profissional, o prestígio de um curso numa universidade renomada, dentre outros fatores que podem influenciar no sucesso da carreira e no exercício da profissão.

Claro que não são todos os cursos em uma universidade pública que garantem uma carreira promissora e se alguém decide abandonar um curso que oferece pouco retorno profissional e financeiro é até mais compreensível e aceitável.

Mas conseguir ingressar num mestrado nessas condições e jogar tudo para o alto no meio do caminho é quase uma heresia acadêmica e profissional.

Por outro lado, por que sempre é tão difícil compreender uma decisão que não esteja alinhada ao que parece ser “o melhor”? Afinal, existem parâmetros óbvios que podemos tomar como referência para uma decisão desse porte, não é mesmo?

No contexto das opções no universo acadêmico, por exemplo, pedir transferência de um curso como Arquitetura e ir para a Geografia ou sair do Direito e ir para História ou mesmo prestar Letras ou Ciências Sociais (Filosofia, então, nem se fala) ao invés de Administração ou Engenharia - ainda mais se a pessoa é considerada “inteligente“ e bem preparada para o vestibular - é algo igualmente incompreensível na maior parte dos casos e já vi muita peleja entre pais e filhos por causa desse tipo de decisão.

A questão é que o parâmetro para o que “é melhor” não tem como foco o que a pessoa quer, o que sente, o que gosta e o que a faz feliz. O que torna absurda uma atitude como a tomada por este meu amigo são as considerações feitas por essa sociedade racional e mercadológica, na qual o importante é você fazer algo em que esteja implícito o sucesso profissional e financeiro, independente se isso te faz feliz ou não.

Aliás, como pude me esquecer? Nessa sociedade é piegas falar em felicidade baseada numa referência mais interna e pessoal, afinal, se você é alguém de sucesso, que conseguiu “chegar lá”, com certeza será feliz, não é assim? Infeliz com certeza será aquele que se contenta com pouco, que tendo a oportunidade de fazer um curso de alto padrão e reconhecimento social opta por um daqueles cursos que já falei aqui, que formam profissionais pouco valorizados socialmente e no mercado de trabalho, leia-se, especialmente, professores.

Assim, não é incomum ouvir a história de um advogado frustrado que queria ter feito Música ou Artes Plásticas, de um engenheiro que queria ser historiador ou filósofo, de um jornalista que queria ser ator, porque ainda há jovens às pencas que entram na universidade influenciados - e até mesmo obrigados - não pelo que querem, mas pelo que seus pais acham que é melhor para eles, baseado nesse pressuposto de que se o cara quer fazer arte, teatro ou filosofia, depois vai viver do quê? Não, precisa fazer um curso que garanta seu futuro, então tem que ser Engenharia, Medicina, Administração. Não importa muito se o cara vai ficar frustrado em seus desejos, naquilo que quer e que o faz feliz, o importante é que tenha um “futuro profissional”.

Mas como eu já disse, ser feliz para quê, não é?, o importante é ser uma pessoa de sucesso, com um trabalho promissor, que garanta adquirir todos os bens de consumo que a sociedade impõe como necessários para que, aí sim, sejamos felizes. A felicidade, nesse contexto, não é fazer escolhas que estejam de acordo com o que queremos de verdade, com o que faz sentido ou nos completa, mas fazer escolhas que garantam retorno financeiro e um determinado padrão social.

Observe, no entanto, que é possível ser professor ou artista e viver disso profissionalmente. Talvez seja um pouco mais difícil porque no mundo capitalista não há tanta necessidade de arte nem de educação, então, para que valorizar profissionais dessas áreas? Mas, ainda assim, seguramente é possível viver dignamente tendo essa formação.

A questão é que ser feliz na sociedade contemporânea implica muito mais que viver dignamente, há um conjunto de supostas necessidades materiais que precisam ser supridas e que com um salário mais modesto às vezes fica complicado.

O fato é que, neste mundo contemporâneo, fazer escolhas que não estejam dentro dos padrões aceitáveis da organização racional-capitalista gera pressão social e faz com que esse tipo de atitude pareça absurda. Mas é absurdo abandonar o que não faz sentido e nem faz feliz? É absurdo largar algo que não foi exatamente escolha própria, voltar atrás quando percebemos que fomos enredados pelas escolhas dos outros, sejam nossos pais, seja a sociedade? É absurdo abandonar algo que nos disseram que era o melhor porque garantia sucesso, progressão profissional e financeira se, na verdade, não é isso que queremos realmente?

Em prol de quê há que se seguir um caminho assim? Para não desagradar aos pais? Porque eles acham que é o melhor caminho? Porque tivemos oportunidade em meio a tantas outras pessoas que tentaram e não conseguiram? Porque isso garantiria o sucesso profissional?

Bem, sempre é possível ir na contramão desse padrão de escolha e sentir-se muito feliz. Foi o que fez meu amigo ao abandonar seu mestrado na USP.