domingo, 15 de maio de 2011

Algumas ponderações sobre Identidade [Virtual]

Imagem: www.advivo.com.br
Na primeira parte deste texto falei um pouco sobre alguns problemas advindos de um dos últimos bugs do Google, em que contas de email foram desativadas e, por conseguinte, blogs removidos.

Como estive entre os usuários atingidos por esse bug, fiquei alguns dias sem meu email e Blog, o que me levou a essa reflexão sobre identidade [virtual], que tento esmiuçar um pouco nessa segunda parte do post.

Bem, nos idos de 1998, quando comecei a usar a internet e conhecer pessoas nas já meio esquecidas salas de bate-papo, lembro que havia sempre aquele fantasma do "será que a pessoa do outro lado é quem diz ser?" - fantasma ainda não totalmente extirpado, é verdade, mas mais decepcionante na atualidade para ingênuas mocinhas casadoiras ou perigoso para crianças e adolescentes que usam computadores sem nenhuma supervisão ou orientação dos pais.

Contudo, excetuando casos exagerados ou patológicos como esses - em que o objetivo é enganar ou fazer mal a alguém, penso que é necessário considerar ilusória essa idéia de “quem uma pessoa realmente é”, afinal, publicamente, todos usamos nossa máscara social sob a qual se esconde nossa verdadeira identidade - seja no mundo real ou no virtual.

Ora, não é novidade para  ninguém que um about me, assim como frases de efeito ou o que se fez no fim de semana é muito pouco para o real significado de nossa identidade. Assim como no trabalho podemos adotar um padrão de comportamento, de vestimenta ou de vocabulário distante do que gostaríamos mas conveniente para o exigido socialmente pela empresa ou pela nossa função. Ou seja, não se trata de mentir sobre nossa identidade, mas sobre o quanto realmente queremos [ou o quanto é possível permitir] que os outros saibam sobre nós.

De qualquer forma, salvaguardados os parâmetros expostos acima, considero que para aqueles que usam a net de forma séria, buscando divulgar seu trabalho e suas idéias, manter o contato diário com amigos e mesmo conhecer novas pessoas, a identidade virtual tornou-se tão importante quanto a identidade adotada pelas pessoas em outros espaços de suas vidas.

Foi assim que me vi absolutamente perdida quando descobri que não tinha mais acesso ao Gmail - meu email principal - e depois com uma sensação enorme de desconforto  porque grande parte da minha identidade virtual está vinculada a essa conta: para acessar o Fórum Blogger, por exemplo, nesse período tive que usar a conta Gmail de um amigo e, embora eu tenha explicado isso no Fórum, foi muito estranho porque é como se não fosse eu escrevendo ali. O desconforto foi tanto que quando recuperei minha conta e fui postar lá novamente comecei com um “antes de tudo, quero dizer que é muito bom poder voltar a este Fórum como eu mesma (ainda que virtualmente)”.

Depois do susto, fiquei refletindo sobre essa sensação de lacuna porque, para além dos arquivos, discussões e contatos, de fato, era quase como se uma parte de mim tivesse se perdido em meio à confusão gerada na perda dessa nova identidade. Mas de onde vem tamanha força que constitui a formação dessa identidade virtual? É bem possível que não seja da suposta perda concreta de dados, afinal, exceto se um email é criado exclusivamente para arquivo, todos guardamos ali muito mais do que realmente vamos utilizar, e os contatos, bem, os contatos verdadeiramente importantes seguramente poderiam ser recuperados porque são de amigos e de pessoas próximas. Então, qual seria a verdadeira razão de me sentir tão perdida sem minha famigerada identidade virtual?

Considero que talvez a identidade virtual seja algo quase que inerente aos crescidos em meio ao universo das redes sociais, dos sitesblogs, das discussões em listas de emails e das conversas online. Mas para quem viveu uma época em que o celular era supérfluo e a internet era total inimaginável confesso que estou um tanto chocada por me perceber tão parte e, por que não, tão dependente, desse universo virtual.

Fico pensando se chegará o dia em que não bastará mais ao humano simplesmente ser, mas também será imprescindível ser virtualmente.