quinta-feira, 7 de julho de 2011

Histórias de mulheres - Republicação* de aniversário

Professora com unhas vermelhas

Débora Arango.
Tela. s/ informações.
Certa feita, quando eu estava professora em uma escola, ouvi essa história a propósito de uma discussão, se não me falha a memória, sobre valores e visão de mundo no cenário da educação.

Um docente da FE-USP contou que na década de 80 havia indicado uma amiga para concorrer a uma vaga em uma escola particular de renome. Tempos depois, conversando com o coordenador, perguntou como a professora havia se saído na entrevista.

"É uma professora interessante, mas não dá para contratar uma mulher que pinta as unhas de vermelho, né?", comentou o coordenador, imagino eu, com ar de quem tem certeza de que fez a coisa certa.


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Mais unhas vermelhas e (mais) repressão ao feminino

Vejam que coisa, nem bem registrei essa história da professora com unhas vermelhas e já, por causa dela, uma querida amiga me contou algo similar sobre sua mãe, senhora jovial que, além de mulher incrível, cozinha o melhor escondidinho de carne que comi na minha vida.

Pois certa vez, lá pelos seus treze anos (ela tem cinquenta e poucos atualmente), Dona Esther* foi à casa de uma tia juntamente com sua irmã de 11 anos e a tia, mulher provavelmente desprendida dos padrões sociais da época, pintou as unhas delas de vermelho.

Chegando em casa, além de enfrentarem a bronca do pai - acho mesmo que apanharam - minha amiga contou que seu avô contrariado obrigou as duas a tirarem imediatamente o esmalte.

As mocinhas correram à vizinha, que também não tinha acetona. Desesperadas com a situação, utilizaram gilette para raspar as unhas, evidentemente, machucando e cortando os dedos.

Até hoje Dona Esther* e a irmã têm marcas nas unhas por causa dessa cor vergonhosa ao padrão de boa moça daquela época.


*Nome fictício.

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Débora Arango. Justicia.
História de uma escrava

Essa é a história de uma certa escrava e de um certo juiz. A escrava colocou fogo no filho recém-nascido para que o menino não se tornasse escravo como ela.  O maior crime não foi exatamente a morte da criança, mas o prejuízo do senhor pela perda de um bem, motivo pelo qual a escrava foi condenada a levar um tanto grande de chibatadas. O nosso juiz teria que contar uma a uma as chibatadas, obrigação que ele se recusou a cumprir, sendo deposto de seu cargo. Conta-se que ele morreu muito pobre por causa disso mas nada se sabe sobre como morreu essa mãe-escrava sem seu filho.



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*Histórias originalmente publicadas nas páginas Mil e uma histórias e Fazenda Pedra Negra.