sábado, 12 de março de 2011

Como melhorar o trânsito paulistano

Imagem: http://quatrorodas.abril.com.br/
Depois do contraste Minas-São Paulo que vivi no último feriado refleti um pouco sobre quanto cada lugar está envolvido em um tipo de energia diferente, a depender do que acontece ali.

Claro que aos adeptos da materialidade isso pode parecer um pouco hippie demais, mas o fato é que as vibrações que emanamos diariamente nessa Sampa da pressa, da produção, do stress, da super-lotação etc. tornam a energia daqui pesada e difícil, muito diferente, por exemplo, da de Minas, pelo menos no sul, na região de Três Pontas, onde fica a Fazenda que já falei aqui no blog antes.

E o trânsito talvez seja um dos espaços onde mais essa energia se materializa porque é onde mais se concentram pessoas que acabam se irritando tanto pelas questões inerentes ao que chamamos de trânsito - e que em São Paulo representa basicamente ficarmos lentos ou parados no caminho - quanto por conta de outros fatores que vão piorando essa energia de ter de esperar diariamente nos trajetos de carro ou ônibus ou mesmo de trem e metrô.

Pois bem, formulei uma proposta que, imagino, fosse adotada por todos, poderia amenizar muito nosso stress no cotidiano do trânsito em São Paulo e, por conseguinte, amenizar o peso das vibrações que despejamos nessa Sampa que pode ser mais agradável e leve na trajetória de seus comensais, por assim dizer.

É o seguinte, considerando-se que todos vamos enfrentar algum trânsito no cotidiano, a brincadeira é tentar pegar o máximo de trânsito possível diariamente, sendo que o ganhador é aquele que tiver conseguido a maior kilometragem com trânsito ou número de horas no trânsito lento ou parado por semana ou por mês - podemos aprimorar depois qual é o jeito mais fácil de fazer essa medição. 

Assim, aquele motorista acostumado, por exemplo, a ficar costurando o trânsito aqui e ali para ganhar tempo já vai pensar duas vezes, afinal, se fizer isso vai perder pontos para quem gasta mais tempo no trânsito porque respeita as faixas.

Por sua vez, aquele motorista que gosta de aproveitar uma faixa que não existe, o acostamento ou uma faixa que vai se estreitando para cortar a fila de carros pela direita e entrar na frente de todo mundo também vai repensar essa prática mal-educada porque, seguramente, ao conseguir ganhar um tempinho vai perder pontos para aquele que respeitou a fila.

Aquele outro sujeito que faz uma manobra proibida para pegar um caminho alternativo que promete alguns segundos de ganho de tempo no trânsito também não vai mais querer arriscar-se a perder pontos, afinal, vamos relembrar o objetivo jogo?, vale tudo para ficar mais tempo no trânsito e completar mais horas que seu oponente no trânsito lento ou parado. No caso dessa manobra ilegal ainda pode acontecer de o nosso possível ganhador conseguir que o trânsito fique parado mais minutos nas faixas principais, ganhando ainda mais pontos em cima do metido a espertinho, que entrou no caminho alternativo através de uma manobra ilegal e conseguiu cortar a frente de todo mundo.

Uma outra prática comum no trânsito é aproveitar para fazer cruzamentos onde é proibido entrar ao invés de procurar um retorno ou uma rotatória. Entrando na nossa brincadeira, com certeza o apressadinho não ia se importar de esperar um pouco no trânsito e, dessa forma, iria deixar de fazer essas coisas erradas, que teoricamente ajudam o cara a ganhar tempo e sair do trânsito mais rápido mas de que nada servem para ajudá-lo a ser o vencedor nesse jogo.

Imagem: www.devaneiosdeumforasteiro.blogspot.com
Outra coisa menos perigosa mas um tanto quanto irritante é que ninguém mais ia ficar mudando o tempo todo de faixa para ficar na frente de todo mundo e sair primeiro quando o semáforo abre. Um desdobramento dessa atitude seria que os bons jogadores também deixariam os outros motoristas que pedem passagem entrarem no trânsito, afinal, quanto mais pessoas entrarem na sua frente maiores as chances de elas chegarem ao seu destino antes de você e, assim, você ganhar a brincadeira. Essa estratégia ajudaria na gentileza, iguaria pouco encontrada no trânsito de São Paulo.

E os motociclistas e motoqueiros então? Pensariam duas vezes antes de ficar correndo que nem loucos entre espaços os menores possíveis entre os carros para chegar muito rápido aos seus destinos, afinal, o objetivo é ganhar a brincadeira, portanto, ser extremamente rápido em um trânsito lento só pode colaborar para que você jamais seja o vencedor do jogo.

É, acho que teríamos que ter duas categorias, a de motociclistas e uma geral, com todos os outros veículos, senão quem dirige moto, mesmo com muito esforço, jamais conseguiria vencer a brincadeira!

quarta-feira, 9 de março de 2011

**Mulheres, Sarkozy e o Dia Internacional da Mulher

Imagem: http://blogueirasfeministas.com/
Era a hora do almoço na Pedra Negra, todos já reunidos, quando fomos surpreendidos por um dos hóspedes que pediu licença para fazer uma homenagem às mulheres.

Tive aquele momento "puxa, nem lembrei", mas ponderei que estava há dias alienada do tempo-espaço do cotidiano da informação, do urbano e da universidade, mergulhada no bem-estar que emana da calmaria da Fazenda, de seu entorno verde e montanhoso e do convívio harmônico e interessante com nossos anfitriões.

Porém, considerando-se a importância de tal data e minha militância no universo do feminino e do feminismo, imediatamente pensei em me retratar de tal lacuna e escrever alguma reflexão sobre isso no blog. Tarefa de responsa, diria a gíria sobre o assunto, e lá fui eu dar uma 'pesquisadinha' no Google para ver as últimas sobre a data.

E qual não foi minha surpresa ao dar de cara com a declaração do excelentíssimo presidente da França, Nicolas Sarkozy, em uma celebração, defendendo que o Dia Internacional da Mulher é "simpático, é necessário, mas talvez nos devêssemos concentrar no essencial". O essencial, segundo o presidente zeloso das questões econômico-sociais, “é encontrar trabalho para homens e mulheres, uma possibilidade de promoção social para os dois".

Parece-me que o presidente precisa se informar melhor, porque se o problema fosse apenas garantir de forma equitativa oferta de empregos para homens e mulheres não haveria tanta discrepância entre salários, por assim dizer, femininos e masculinos, no mundo do trabalho. No Brasil, por exemplo, pesquisa do Dieese aponta que mesmo as mulheres que possuem maior nível de escolaridade que os homens ocupam funções aquém de sua formação, "além de ter remuneração menor se comparada ao sexo oposto". Na França de Sarkozy os dados indicam que as mulheres ganham até 27% menos que os homens exercendo a mesma função.

Outro equívoco de Sarkozy é falar como se a defesa da existência do Dia Internacional da Mulher fosse incompatível com o desejo de igualdade de direitos para homens e mulheres, como se estivéssemos já em pé de igualdade de direitos com os homens e nossas reivindicações fossem para ter mais direitos que eles.

Talvez por isso tenha questionado se mulheres desejosas de autonomia e de trabalho não terão iguais aspirações para o seu filho como para a sua filha?” Mas alguém precisa explicar ao excelentíssimo presidente que a igualdade de direitos para as mulheres ainda está longe de ser conquistada em sua plenitude, portanto, sim, temos as mesmas aspirações para nossos filhos e filhas, com a diferença que para os nossos filhos o terreno já está bem propício, enquanto que para as nossas filhas muitos Dias Internacionais das Mulheres ainda terão lugar antes de conquistarmos reais e justas possibilidades de vivência nos espaços domésticos e sociais, de trabalho etc.

Reconhecemos que “as coisas mudaram consideravelmente”, como observou muito bem o senhor presidente, mas apenas quem não convive em espaço  algum com mulheres nem acompanha absolutamente nada sobre a vida da mulher no mundo contemporâneo pode pensar que tais mudanças são satisfatórias e que nada mais é necessário mudar para melhorar a vida das mulheres na sociedade atual.

Mas o que verdadeiramente me chocou no nível de ignorância do excelentíssimo presidente foi seu questionamento sobre se o Dia Internacional da Mulher “quererá dizer que os restantes dias são do homem?”

Nem vou gastar minha verve contestando uma bobagem tamanha como essa, mas lembrei de uma situação uma vez num supermercado, quando ouvi duas mulheres conversando sobre esse assunto e uma delas comentou que achava um absurdo haver um Dia Internacional da Mulher e não haver um Dia de comemoração para o homem.

Fico pensando no grau de opressão e alienação que levam uma mulher a não se enxergar como sujeito social a ponto de pensar como a minha colega descrita aí acima e considero que, se levarmos em conta episódios particulares como esse e públicos como o das declarações de Sarkozy, ainda teremos mesmo que comemorar muitos mais Dias e Dias Internacionais das Mulheres com muita luta, consciência e conscientização.

__________

 
Abaixo faço minha homenagem, com algumas demonstrações da importância do Dia Internacional das Mulheres e da participação e mobilização das mulheres em questões políticas e sociais:


Mulheres negras em manifestação. 8 de março. 1988.
 Imagem: www.memoriaemovimentossociais.com.br


Rio de Janeiro. 8 de março. 1989.
Imagem: www.memoriaemovimentossociais.com.br


                                                                   

Feministas anticapitalistas por um mundo livre. 8 de março. 2008.
Imagem: www.ciranda.net




Marcha Mundial das Mulheres na luta feminista e anticapitalista. 8 de março. 2007.
Imagem: http://www.sof.org.br/



**Uma homenagem a todas as minhas amigas militantes da vida em suas diferentes dimensões.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Interstício

Imagem: mary-paes.blogspot.com  Foto: Maksuel Martins
Tenho tido a felicidade de descobrir que alguns leitores visitam freqüentemente o blog e pelo menos em três ocasiões deram uma reclamadinha com frases do tipo “não agüento mais abrir o blog e ver aquela imagem do cara fazendo xixi” ou “ver aquele texto do xixi na rua, xixi em pé” etc.

De fato, fevereiro foi um mês atrapalhado pra mim, que sou  uma pessoa não muito organizada, e ainda tem os acréscimos do início do ano, com adaptações de rotina dos filhos, escola, trabalho, tudo isso.

Bom, quem me conhece sabe um pouco da complexidade em que me enfio ao tentar explicar caminhos, opções, defender hipóteses, qualquer coisa na verdade.

Assim, percebi que estava difícil retomar minha escrita no blog porque foram juntando muitas propostas, idéias (eu sei, eu sei, pela nova regra ortográfica não é assim que se escreve idéia, mas sou rebelde a essa nova regra, recuso-me a aceitá-la se não for por obrigação) e, de repente, eu já não sabia mais por onde (re)começar.

Para amansar minha indecisão, decidi quebrar um pouco o jejum desse interstício de escrita para, quem sabe assim, conseguir retomar minha epopéia de reflexão nesse espaço.

Há algumas pendências latentes desde o início do ano, como histórias advindas da minha curtíssima estada em Buenos Aires ou as histórias da Fazenda Pedra Negra, que já renderam alguns causos publicados nesse espaço, mas ainda há muito em mim para falar sobre isso.

Dessa forma, mesmo que um pouco sem aquele calor do momento vivido nos ares portenhos ou da magia inicial de conhecer a Fazenda no comecinho do ano, aproveitando que estou novamente na Pedra Negra, preenchendo o espírito com a energia e os ares mineiros, vou “matar dois coelhos de uma cajadada” aqui no Pouco Açúcar, matando minha saudade de escrever no blog e, ao mesmo tempo, retomando temáticas que me tornam menos ácida e mais degustável ao paladar sensível dos meus queridos e exigentes leitores.

Até muito breve!!!  ;)