quarta-feira, 9 de março de 2011

**Mulheres, Sarkozy e o Dia Internacional da Mulher

Imagem: http://blogueirasfeministas.com/
Era a hora do almoço na Pedra Negra, todos já reunidos, quando fomos surpreendidos por um dos hóspedes que pediu licença para fazer uma homenagem às mulheres.

Tive aquele momento "puxa, nem lembrei", mas ponderei que estava há dias alienada do tempo-espaço do cotidiano da informação, do urbano e da universidade, mergulhada no bem-estar que emana da calmaria da Fazenda, de seu entorno verde e montanhoso e do convívio harmônico e interessante com nossos anfitriões.

Porém, considerando-se a importância de tal data e minha militância no universo do feminino e do feminismo, imediatamente pensei em me retratar de tal lacuna e escrever alguma reflexão sobre isso no blog. Tarefa de responsa, diria a gíria sobre o assunto, e lá fui eu dar uma 'pesquisadinha' no Google para ver as últimas sobre a data.

E qual não foi minha surpresa ao dar de cara com a declaração do excelentíssimo presidente da França, Nicolas Sarkozy, em uma celebração, defendendo que o Dia Internacional da Mulher é "simpático, é necessário, mas talvez nos devêssemos concentrar no essencial". O essencial, segundo o presidente zeloso das questões econômico-sociais, “é encontrar trabalho para homens e mulheres, uma possibilidade de promoção social para os dois".

Parece-me que o presidente precisa se informar melhor, porque se o problema fosse apenas garantir de forma equitativa oferta de empregos para homens e mulheres não haveria tanta discrepância entre salários, por assim dizer, femininos e masculinos, no mundo do trabalho. No Brasil, por exemplo, pesquisa do Dieese aponta que mesmo as mulheres que possuem maior nível de escolaridade que os homens ocupam funções aquém de sua formação, "além de ter remuneração menor se comparada ao sexo oposto". Na França de Sarkozy os dados indicam que as mulheres ganham até 27% menos que os homens exercendo a mesma função.

Outro equívoco de Sarkozy é falar como se a defesa da existência do Dia Internacional da Mulher fosse incompatível com o desejo de igualdade de direitos para homens e mulheres, como se estivéssemos já em pé de igualdade de direitos com os homens e nossas reivindicações fossem para ter mais direitos que eles.

Talvez por isso tenha questionado se mulheres desejosas de autonomia e de trabalho não terão iguais aspirações para o seu filho como para a sua filha?” Mas alguém precisa explicar ao excelentíssimo presidente que a igualdade de direitos para as mulheres ainda está longe de ser conquistada em sua plenitude, portanto, sim, temos as mesmas aspirações para nossos filhos e filhas, com a diferença que para os nossos filhos o terreno já está bem propício, enquanto que para as nossas filhas muitos Dias Internacionais das Mulheres ainda terão lugar antes de conquistarmos reais e justas possibilidades de vivência nos espaços domésticos e sociais, de trabalho etc.

Reconhecemos que “as coisas mudaram consideravelmente”, como observou muito bem o senhor presidente, mas apenas quem não convive em espaço  algum com mulheres nem acompanha absolutamente nada sobre a vida da mulher no mundo contemporâneo pode pensar que tais mudanças são satisfatórias e que nada mais é necessário mudar para melhorar a vida das mulheres na sociedade atual.

Mas o que verdadeiramente me chocou no nível de ignorância do excelentíssimo presidente foi seu questionamento sobre se o Dia Internacional da Mulher “quererá dizer que os restantes dias são do homem?”

Nem vou gastar minha verve contestando uma bobagem tamanha como essa, mas lembrei de uma situação uma vez num supermercado, quando ouvi duas mulheres conversando sobre esse assunto e uma delas comentou que achava um absurdo haver um Dia Internacional da Mulher e não haver um Dia de comemoração para o homem.

Fico pensando no grau de opressão e alienação que levam uma mulher a não se enxergar como sujeito social a ponto de pensar como a minha colega descrita aí acima e considero que, se levarmos em conta episódios particulares como esse e públicos como o das declarações de Sarkozy, ainda teremos mesmo que comemorar muitos mais Dias e Dias Internacionais das Mulheres com muita luta, consciência e conscientização.

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Abaixo faço minha homenagem, com algumas demonstrações da importância do Dia Internacional das Mulheres e da participação e mobilização das mulheres em questões políticas e sociais:


Mulheres negras em manifestação. 8 de março. 1988.
 Imagem: www.memoriaemovimentossociais.com.br


Rio de Janeiro. 8 de março. 1989.
Imagem: www.memoriaemovimentossociais.com.br


                                                                   

Feministas anticapitalistas por um mundo livre. 8 de março. 2008.
Imagem: www.ciranda.net




Marcha Mundial das Mulheres na luta feminista e anticapitalista. 8 de março. 2007.
Imagem: http://www.sof.org.br/



**Uma homenagem a todas as minhas amigas militantes da vida em suas diferentes dimensões.