quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Nós e a Greve – Parte II: 2007

Passeata na Avenida Paulista.
Depois da greve de 2007 na USP eu tinha pensado em não participar de outra greve novamente, porque fiquei com a sensação de que o desgaste não compensa as poucas conquistas que advém do movimento.

Parênteses: não quero dizer com isso que a greve não seja válida ou necessária, pelo contrário, acredito  que   sem  ela   muito   do   que   foi   conquistado  em relação a salários ou direitos trabalhistas estaria engavetado sem talvez sequer ter sido discutido.

A questão é que, na maior parte dos casos, algumas conquistas tornam-se insignificantes quando comparadas a todas as propostas de mudança que surgem na discussão política durante o momento de greve.

Ora, essa talvez seja a maior conquista coletiva do movimento, porque é durante a greve que acontecem discussões que permitem uma politização quase inviabilizada pelo cotidiano de trabalho. Durante a greve também é possível conhecer seus colegas de trabalho em outro contexto e partilhar, inclusive com divergências, suas opiniões políticas.

A greve é, sobretudo, um momento de grande aprendizado político e de cidadania.

Quem passa pela universidade e se exime de participar das discussões que permeiam uma greve, quem nunca foi a uma manifestação, nunca participou de uma assembléia, pode estar perdendo uma grande oportunidade de vivenciar por dentro um movimento político, inclusive para fazer críticas com conhecimento de causa.

Para além das discussões sobre salário e condições de trabalho, permanência estudantil e outras reivindicações, por assim dizer, mais pontuais, durante a greve surgem discussões de âmbito mais amplo que, dentre outras, questionam as instâncias (que deveriam ser) democráticas na universidade, as formas de relação institucional, além de outras, como por exemplo a relação entre universidade e sociedade.

Assembléia de estudantes.


Pois bem, na greve de 2007 na Universidade de São Paulo, gestão da Profa. Suely Villela, quando a reitoria havia sido ocupada por estudantes algumas semanas antes de deflagrada a greve de funcionários, a universidade virou um palco político no qual foram   travadas   discussões profundas sobre   o  papel  da
universidade, sua democratização e por aí afora.

Envoltos nesse clima que inspirava a mudança, lembro que houve uma plenária na Faculdade de Educação que congregou funcionários, estudantes e docentes para discutir questões internas à faculdade. Esse debate trouxe à tona a necessidade de espaços democráticos que viabilizassem uma discussão contínua em que todos os segmentos tivessem participação; um docente que era chefe de um departamento chegou a fazer um mea culpa dizendo que ele próprio, devido ao cotidiano intenso de trabalho, não conseguia tempo para propor e efetivar espaços concretos que permitissem a participação e discussão coletivas.

Evidentemente, todos concordaram com a necessidade de aproximação entre docentes, funcionários e professores através do diálogo, da partilha das necessidades de cada um no espaço de trabalho e alguém lembrou a dificuldade de que esse tipo de discussão e decisão sobreviva ao fim da greve muito em função do cotidiano de trabalho. Por conta disso, ali se firmou um acordo de que seriam garantidas, de alguma forma, a continuidade e aprofundamento dessas discussões para que as tais das mudanças fossem pensadas e implementadas e tudo o mais.

Bem, passados mais de 3 anos nada aconteceu nesse sentido. E eu, como pessimista que sou, fiquei me questionando se mesmo vivendo um momento político tão forte como o instaurado em 2007 - com uma greve de funcionários e a ocupação da reitoria que permitiram uma militância consciente e segura de sua força para reivindicar direitos – nada mudou profundamente na estrutura da universidade, ou pelo menos nada mudou em um local onde sei que isso foi pauta de discussão com acordo e tudo, que situação política tornará isso será possível? Que movimento trará condições favoráveis a essas mudanças mais consistentes nas relações institucionais, no cotidiano, na dinâmica da universidade?

4 comentários:

Unknown disse...

Vejo que alguma coisa mudou, aqueles sentimentos de desafeto, de incompletude, imparcialidade e desinteresse começam a dar espaço para um novo estado em que começamos a entender e questionar por fazermos parte de um universo que nos pertece.
Na verdade, são microuniversos miteriosos que o tempo todo nos deixa com aquela coceira; o futebol, o carnaval são temas bem ricos para uma próxima reflexão, vc não acha?

bjs
Dió

Jany Canela disse...

Dió, não sei se entendi bem seu comentário, se você está falando de você, de um coletivo genérico, se o q disse está ligado aos funcionários da USP, da FE ou se é algo mais amplo que diz respeito a nossa inserção em outros espaços.

Também não entendi q microuniversos misteriosos seriam esses mas acho q se são isso mesmo, "microuniversos misteriosos", provocariam coceira sim. Só não sei se a coceira de q vc fala é de curiosidade ou de necessidade de transformar.

Sem dúvida, futebol e carnaval são temas q incitam reflexão, mas como minha compreensão sobre seu comentário ficou limitada fiquei em dúvida sobre exatamente o q vc está propondo, sua proposta, enfim, acho q seu comentário foi ou poético ou acadêmico demais pra mim...

Posso ter uma segunda chance? :)

Unknown disse...

Sim, estou falando das várias opções dentro desses microuniversos. O futebol, o carnaval, a ciranda, o jongo, o cosplay, etc...imaginar as possibilidades de submersão, permitindo compreender melhor suas concepções.
Minha proposta inicial era imaginar vc na arquibancadadentro de um estádio de futebol no meio da galera gritando timão!
Não dá para ser mais literal, ou dá?

Jany Canela disse...

Bem, se a literalidade a q você se refere tem a ver com estar na arquibancada no meio da torcida gritando timão realmente não dá para ser mais literal que isso. Nunca tinha me pensado em assistir a um jogo sob essa perspectiva. Então, quando será?

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